O carro de bois existente na sede do Município de Quari, único aliás, evoluiu na forma e na nomenclatura. Enquanto que em outras regiões do Brasil, e mesmo no Amazonas, é vulgarmente conhecido pela denominação de carro de bois, naquela é chamado carroça de bois. Isto porque evoluiu na forma, sendo o boi adaptado a um tipo de carro muito comum em Manaus, as carroças tiradas a burro, empregadas em vários misteres: mudanças, transportes de mercadorias, de lenha a domicílio, madeiras, tijolos, areia, cereais, etc.
Esse tipo de carroça, mais leve e menor que os verdadeiros carros de bois do norte e do sul (conhecidos pela simplicidade dos seus itens), portanto inferior em tonelagem àqueles, são construídos em Quari por um operário português. Uma carroça custa, atualmente (1950) cinco mil cruzeiros (Cr$ 5.000,00) sem os animais. A única existente na sede do município não chia (“Canta”). O unto empregado nos eixos é a graxa comum. Não existe nenhuma postura municipal vigente que proíba o “canto do carro.
Na cidade de Quari, os bois utilizados na tração, e que morreram de velhos, chamavam-se respectivamente Chamurro, Pretinho, Lavanderia e Canário. Atualmente presta, serviços: Fortaleza e Moleque.
O regime de trabalho, apesar do clima opressivo do Amazonas (agosto, setembro e outubro), parece não afetar muito ao homem, não acontecendo o mesmo aos animais, que se esgotam facilmente. O homem trabalha no seu mister das oito e meia às dez e meia, e recomeça às quinze para terminar às dezoito horas. Creio, portanto, que o calor amolecedor da tarde deve prejudicar muitos aos animais, principalmente naqueles três meses de verão grande, salvo se esse horário não é cumprido à risca e os bois podem suportá-lo sem perigo de estafamento.
A carroça de bois existente na cidade de Quari é de propriedade da prefeitura municipal, que a utiliza diariamente no transporte de materiais de construção, cargas do porto, mercadorias, madeira, etc. O peso desse material oscila entre duzentos a quinhentos quilos.
O uso da carroça de bois foi introduzido no município de Quari em 1930, por iniciativa do então prefeito municipal, capitão Alexandre Montoril, em substituição às carroças puxadas a burro. Essa medida foi posta em prática em virtude da dificuldade cada vez maior de aquisição de muares, já pelo seu alto custo, já pela faculdade menor de resistência, pois que o boi suporta melhor o carro e os martírios todos que lhe costuma oferecer o homem em troca do trabalho.
Fonte: Livro “Nunca Mais Coari” – Archipo Góes – 2016