História da Catedral de Santana e São Sebastião

Santana
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A Catedral de Santana e São Sebastião em Coari é um importante símbolo religioso e cultural para a cidade e é conhecida por sua torre imponente, a mais bonita das igrejas do Solimões.

O primeiro assentamento populacional de Coari foi fundado pelos padres Carmelitas, situando-se no interior do lago de Coari. Este lugar era conhecido pelo nome de Aldeia de Coari.

O primeiro projeto urbanístico destinado às cidades foi fundamental na iniciativa do Marquês de Pombal (1750-1777) para integrar a Amazônia ao território português, conferindo às cidades amazônicas características portuguesas. O objetivo era fortalecer a presença portuguesa no vale amazônico, sendo insuficiente manter o controle territorial da mesma maneira que vinha sendo realizado há mais de um século.

A fundação de novas vilas e cidades substituiu as missões religiosas dos Jesuítas no vale do rio Amazonas. Essas novas localidades foram nomeadas com títulos portugueses como Barcelos, Serpa, Santarém, Óbidos, entre outras localidades, aderindo ao plano urbanístico que se assemelha ao das cidades portuguesas. Isso deu uma característica portuguesa ao Vale Amazônico. Em 1759, a aldeia de Coari foi promovida à categoria de Lugar, recebendo o nome português de Alvelos.

Ao analisarmos os documentos históricos do império na província do Amazonas, encontramos um mapa documental meticulosamente organizado pela Secretaria do Governo do Amazonas em 30 de setembro de 1860. Este mapa confirma que a paróquia de Santana de Coari foi estabelecida no ano de 1774.

O ano de 1833 foi um período com vários conflito e tensões, isso devido a um levante conhecido como “Movimento Autonomista do Rio Negro”. Por esse motivo, o Império Brasileiro, que estava no período das Regências promoveu um processo de diminuição desses conflitos através da divisão da província do Grão-Pará em três comarcas, e dessa forma Manaus lhe coube a comarca do Alto Amazonas. Assim, havia alguma independência administrativa e autonomia judiciaria.

Nesse mesmo ano de 1833, o lugar de Alvelos passou a categoria de Freguesia e na denominação religiosa foi intitulada de Paróquia sob a invocação de Santana, a padroeira da localidade.

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Em 1848, André Fernandes de Sousa em sua obra “Notícias Geográficas da Capitania do Rio Negro”, cita sua passagem por Alvelos:

No ano 1850 houve fato histórico que trouxe a autonomia político-administrativa para o Amazonas. Após ter lutado ao lado do Império na Cabanagem, o Amazonas recebeu como uma espécie de recompensa, a sua autonomia. A Província do Amazonas foi uma província do Império do Brasil, sendo criada a partir do desmembramento da Província de Grão-Pará, confirmada segundo a Lei nº 582, de 5 de setembro de 1852.

Contudo, a vida na freguesia de Alvelos não era muito salubre. O solo era arenoso e árido, havia grande ventanias, tempestade muto forte, alagamento no período das cheias, pragas de Saúvas e ataques de indígenas Muras. Conforme descreve João Wilkens de Mattos, em 1854, trouxe novas informações sobre a freguesia de Alvelos em seu Roteiro de Viagem:

— A posição em que está este Povoado não oferece proporções para o seu desenvolvimento; é açoitada de ventanias fortes, o solo é árido e a distância em que está da foz do rio dificulta o acesso, principalmente no tempo da seca, por haver uma corredeira na parte mais estreita da baia, que só permite passagem a montarias.

— Desejosos os habitantes de criar outro povoado junto da foz do rio, onde oferece outras proporções a sua prosperidade que não a atual situação. Em virtude de representação dos próprios moradores, foi a Presidência da Província autorizado por uma Lei Provincial promulgada de 30 de setembro de 1854 a transferir a Matriz da Freguesia para o lugar que for designado pela mesma Presidência, junto a foz do rio Coary, justamente aquele que se assenta hoje a cidade.

Devido ao pedido dos moradores de Alvelos, foi sancionada da lei que transferiu a matriz da freguesia de Alvelos. Nesse contexto, o vigário José Bene decidiu mudar-se, levando consigo o sino da igreja, que na mudança desmantelou-se. Trouxe também seus modestos paramentos ou alfaias e estabeleceu uma capela na localidade que ficou conhecida em Coari Novo. Durante essa mudança, que aconteceu em 1855, o vigário foi acompanhado por alguns de seus fiéis, que não possuíam interesses profundos na antiga freguesia, ou entenderam as vantagens da mudança planejada.

O vigário Gregório José Maria Bene estabeleceu uma casa simples e modesta para as práticas religiosas em Coari Novo. Naquele mesmo ano de 1855, a Assembleia Legislativa Provincial do Amazonas aprovou uma verba de 400$000 para a construção da nova igreja matriz no local.

No entanto, a construção da primeira matriz situada na foz do lago passou por um processo de aprovação demorado. Até o ano de 1868, a verba aprovada pela Assembleia para a construção da Igreja em Coari Novo ainda não havia sido utilizada. Enquanto isso, as reuniões religiosas católicas ocorriam em uma residência particular.

A construção inicial da matriz exigiu a formação de uma comissão composta por figuras proeminentes da época para gerenciar o projeto inteiro da obra. Esta comissão incluía o major Antônio José Pereira Guimarães, o qual foi o primeiro morador das terras de Coari Novo, o vigário José Maria Fernandes, o atual Santo de Coari, o tenente Balbino José Pereira Guimarães e os capitães Gustavo Antônio Ribeiro e M. Nogueira Dejard.

No livro Panoramas Amazônicos – Coari, o escritor e juiz Anísio Jobim afirmou que a construção da igreja estava quase concluída em 1873, restando apenas a instalação de telhas em uma das sacristias, a colocação de ladrilhos no interior da igreja, bem como a construção do coro e do gradeamento do confessionário. A técnica de construção utilizada foi a taipa de pau a pique. Foram empregados cerca de quatro mil tijolos e mil e quinhentas telhas na sacristia. O governo estadual contribuiu com dezesseis barricas de cal. Dadas as suas dimensões, essa igreja se destacava como uma das mais impressionantes do interior.

Os Sinos da Matriz

Fotos: Daniel Almeida

Lembramos que em 1854, na mudança da matriz da freguesia de Alvelos de dentro do lago de Coari para próximo onde o lago de Coari deságua no Solimões, o padre o Gregório José Maria Bene foi o primeiro a fazer a mudança com os seus paramentos, todavia, o sino desmantelou-se e foi destruído.

O sino da igreja matriz em Coari é o artefato mais antigo que possuímos, sendo um marco significativo na história do nosso município. Muitos coarienses, infelizmente, não estão completamente familiarizados com a história deste símbolo tão relevante para a cultura local. O sino foi testemunha de mais de 150 anos de eventos históricos e sociais, desde a fundação do município, passando pela mudança do nome oficial de Alvelos para Coari, até a sua elevação à categoria de vila.

O sino mais antigo da Matriz de Coari, um presente ofertado à Senhora Santana da Freguesia de Alvellos, foi uma gentileza dos senhores Antônio Francisco Liza, Raimundo Maciel Parente e Manoel Antônio da Silva e Filhos. Este sino, fabricado em Lisboa, Portugal, data do ano de 1873. Foi instalado na primeira igreja construída na praça de Santana, hoje a feira alternativa, no bairro de Santana, atual Tauá-mirim.

O segundo sino da nossa principal igreja católica foi fabricado em 1960, e chegou a Coari justamente quando a Catedral de Coari foi estabelecida, após sua significativa reforma e expansão das naves laterais. Por sua vez, ele foi oferecido a São Sebastião e a Santana.

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Fotos: Daniel Almeida

A Inauguração da Matriz em Tauá-mirim

Segundo Anísio Jobim:

Em 1873, o edifício estava quase todo pronto, faltando apenas cobrir com telhas uma das sacristias, ladrilhar o corpo da igreja, construir o coro e a grade do confessionário. Essa construção era de taipa de pau a pique. Em pregaram-se quatro mil tijolos e mil e quinhentas telhas na sacristia. O governo forneceu dezesseis barricas de cal. Pelas suas proporções, era essa igreja uma das melhores do interior. Para documenta-lo, temos o testemunho de um dos mais respeitáveis presidentes do Amazonas: “No interior, as matrizes não têm a decência necessária a um templo, onde se celebra o culto divino. Com exceção da matriz da vila de Coary, as demais do interior não podem ter semelhante nome”.

Conforme notícia publicada no jornal impresso “Diário de Pernambuco” a primeira igreja católica em “Coari Novo” foi inaugurada no dia 1º de fevereiro de 1874, às 10 horas, a Igreja Matriz da freguesia de Coari, também conhecida como Coari Novo, foi concluída e solenemente inaugurada. Ela ficava localizada na Praça de Santana, no atual bairro de Tauá-mirim, a construção da igreja foi possível graças às doações generosas dos fiéis.

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Anísio Jobim também declarou que, pouco tempo depois, foi construída uma pequena capela de palha e barro, dedicada a São Sebastião, localizada na Praça São Pedro, atualmente renomeada como Praça São Sebastião.

Em 1876, o padre José Maria Fernandes, que era o vigário da paróquia de Coari, recebeu uma verba proveniente do governo provincial. Esses fundos foram destinados à aquisição de utensílios e alfaias para a igreja matriz da Vila de Coari. Segundo Antônio dos Passos Miranda, presidente da província do Amazonas, “no interior da província, as igrejas matrizes não têm a decência necessária a um templo onde se celebra o culto divino. Com exceção da igreja matriz da vila de Coary, as demais no interior não podem ter semelhante nome”.

No dia 17 de janeiro de 1879, quando da visita do presidente da Província do Amazonas, o Barão de Maracaju à Vila de Coary, se encontravam construídas a igreja matriz (Tauá-mirim) e a capela de São Sebastião, construída no alto da colina central (centro), que foram vistoriadas e visitadas pelo Presidente da província, acompanhado do vigário padre José Maria Fernandes.

No ano de 1880, aconteceu uma grande tragédia com a igreja matriz da vila de Coari, no bairro de Santana. Durante um temporal, aconteceu a queda de um raio sobre a torre da igreja matriz, destruindo-a. Esse acontecimento deixa a vila de Coari sem sua principal igreja.

Desde muitos anos que não só a matriz, como essa capela, feita de palha e barro, caíram, não se descobrindo hoje senão alguns indícios da primeira.

A partir deste momento, iniciou-se uma nova jornada histórica para obter financiamento da província para a construção de uma nova Matriz. No entanto, desta vez, seria erguida na praça de São Pedro, que é atualmente conhecida como praça São Sebastião. A lei nº 537 foi sancionada em 9 de junho de 1881, e autorizava a construção da igreja matriz de Coary com o valor de 30 contos de reis e, também, a construção de uma ponte de madeira com oito contos de reis.

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Em 1910, o município de Coary possui uma Comarca e os seus 05 distritos: A vila de Coary, o distrito do Barro Alto, distrito de Camará, distrito de Itapéua e distrito de Piorini. A população no final da primeira década do século XX era de 11.000 mil habitantes e 295 eleitores. A Superintendência Municipal (Prefeitura) era presidida pelo Coronel Lucas de Oliveira Pinheiro.

A atual igreja matriz de Coary, originalmente dedicada a São Sebastião e posteriormente também a Santana, foi construída por meio de contribuições populares e doações da comunidade ribeirinha. Este ato de fé notável foi encabeçado pelo padre espanhol Victor Merino, que serviu como vigário da vila de Coary entre 1906 e 1910. Este respeitável sacerdote, movido pelo fervor cristão, não estava satisfeito com as modestas condições dos locais onde as cerimônias e rituais religiosos eram realizados.

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Em suas viagens a zona rural do município, passava de barracão em barracão, de seringal em seringal, de sítio em sítio, de povoado em povoado, de rio em rio, ia debaixo de chuva e do sol, pedindo pequenas gratificações pela administração dos sacramentos, angariando donativos, sem mostrar sacrifício, o padre era incansável e persistente. Era ele mesmo quem guiava o animal que puxava a carroça de boi, carregada com materiais para a obra.

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A igreja matriz atual, construída em 1910, ergue-se majestosa no topo da colina, destacando-se contra o céu azul com sua torre elegante e imponente que domina a paisagem circundante. Apesar de seu tamanho modesto, este templo é um dos mais belos encontrados na região do Solimões, com seu interior todo coberto por um mosaico requintado. Parte deste mosaico foi um presente do senador Silvério José Nery, filho de Coary, e do Dr. Francisco Satyro Vieira Marinho.

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A igreja matriz da pacata vila de Coari apresentava um imponente estilo arquitetônico espanhol, que no passado, contava apenas com uma nave central.

Em 13 de julho de 1963, foi erigida a Prelazia de Coari pelo Papa Paulo VI através da Bula Ad Christi. Contudo, a prelazia só foi instalada em 11 de março de 1964 numa celebração feita pelo bispo de Manaus, Dom João de Souza Lima, que entregou a prelazia aos missionários Redentoristas que já atuavam nessa região e também em Codajás e Manacapuru. O primeiro bispo prelatício foi o americano, Dom Mário Robert Emmet Anglim, que foi escolhido no dia 25 de abril de 1964 também pelo Papa Paulo VI.
Início da obra de ampliação da igreja matriz de Coari

O Pe. Alyrio Lima dos Santos (Padre Lima – 19/12/1931 – 12/07/1913) missionou o evangelho em Coari entre 1958 e 1962, após isso, viajou para fazer um curso de direito canônico e alguns pequenos cursos de arquitetura em viagem a Roma entre os anos de 1962 a 1964. Ao voltar ao Amazonas em 1964, foi designado pelo bispo Dom Mário para ser seu vigário geral e diretor da Rádio Educação Rural de Coari. Contudo, sua mais difícil e ousada missão foi projetar e coordenar a ampliação da igreja matriz da Paróquia de Coari, sede da prelazia, sendo construída 02 naves laterais e dando esse aspecto suntuoso e imponente a edificação.

Pe. Lima explicava aos paroquianos que independentemente de onde você estivesse, na nave central, nave direita ou esquerda, poderiam assistir à celebração do padre sem empecilhos. Deu-se início às obras e a partir daquele momento, as missas, batizados, casamentos etc foram realizados no prédio da paróquia, que mais tarde seria conhecido como Centro Dom Mário.

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Pe. Alyrio Lima dos Santos em 2012

Era uma segunda-feira, dia 26 de julho de 1971, data essa, que também iniciaram os festejos de Santana, gloriosa padroeira de Coari e cujas solenidades foi ponto alto a grandiosa cerimônia de sagração da Catedral Prelatícia de Coari. A antiga sede paroquial, dedicada a São Sebastião e a Sant´Ana conjuntamente, foi inteiramente remodelada e ampliada, tornando-se um belo e grandioso templo que é uma afirmação de fé do povo coariense, tanto como clássica dedicação e zelo dos padres Redentoristas.

A convite do Primeiro Bispo Prelado de Coari, Dom Mário, o arcebispo metropolitano Dom João de Sousa Lima chegou à cidade de Coari no avião particular da prelazia para participar da grandiosa cerimônia e fez uma recomendação ao povo de Coari:

E falando de Igreja Catedral, não resistimos ao estímulo do próprio assunto para registrar um augúrio de caráter cultural religioso. É este: oxalá os católicos da Prelazia de Coari honrem imediatamente a sua cultura religiosa habituando se a designar a sua principal igreja com o título que ela merece, de Catedral! Catedral Prelatícia, pois lá estará a CÁTEDRA de onde o Bispo ensinará a doutrina cristã contida na Escritura Sagrada e sobretudo nos Evangelhos. E não adquiram o costume sem qualificativo do povo de Manaus, quase na sua maioria que teima em diminuir a sua Catedral Metropolitana chamando de matriz simplesmente.

A Catedral de Coari foi assim revitalizada na gestão de Dom Mario Robert Emmet Anglin, bispo da prelazia de Coari e destaca-se por possuir a torre mais alta das igrejas do Solimões.

Em Coari, sede da Prelazia do mesmo nome, o povo vive, hoje, um dos maiores dias do seu calendário religioso. A antiga matriz paroquial de Santana e São Sebastião, hoje será sagrada Catedral Prelatícia, durante as festividades da gloriosa Padroeira. Do Cônego Walter Gonçalves Nogueira, um dos poucos sacerdotes coarienses, ao Exmo. Sr. Dom Mário Roberto Emett Anglin, Prelado de Coari, recebeu a Moção de Júbilo que ora transcrevemos.

“Excelentíssimo Senhor Bispo

Por ocasião da festa de Santana, gloriosa Padroeira de Coari, e quando se consagra a sua Catedral Prelatícia, o último dos filhos dessa terra em importância e o primeiro em ufania, felicita jubilosamente Vossa Excelência e, na sua pessoa, todo o Revmo. Clero e Religiosas da Prelazia de Coari, assim como o povo generoso e bom ao qual se associa com honra e alegria, nesta hora refulgente.

Queira abençoar-me, em Cristo Jesus.

Mui respeitosamente,

Cônego Walter G. Nogueira.”

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