Manuella Dantas
O texto narra as memórias da autora sobre sua infância na década de 80, marcada pela paixão por filmes de dança e pela amizade com Sirlene Bezerra Guimarães e Ráifran Silene Souza. Juntas, as três formavam o Trio Guadalupe, um grupo informal que se apresentava em eventos escolares e da comunidade, coreografando e dançando com entusiasmo. O relato destaca a criatividade e a alegria das meninas, que improvisavam figurinos e coreografias, e a importância da amizade que as uniu. Apesar do fim do trio, as memórias das apresentações e da cumplicidade entre as amigas permanecem como um símbolo daquela época especial.
Na década de 80 tínhamos uma TV colorida no nosso quarto. Um privilégio para a época. Eu e meu irmão tínhamos um acordo: aquele que acordasse mais cedo pegava a cadeira bem da frente da TV e teria poder sobre o conteúdo que íamos assistir. Afinal, quem ficava bem perto do aparelho, podia se esticar rapidamente para mudar os diversos 3 canais disponíveis.
Na frente daquela TV embarquei nas aventuras dos Goonies (1985) e as riquezas do pirata Willy Caolho; sonhei com o vestido da garota de Rosa Shocking (1986); me diverti com as loucuras de Ferris Bueller, em Curtindo a vida adoidado (1986) e dancei (dancei muito) de polaina, com a Alex de Flashdance (1983).
Aliás, os filmes de dança eram os meus preferidos. No quarto do sobrado em que morávamos dei muitos saltos e ensaiei muitas coreografias com minhas amigas Sirlene Bezerra Guimarães e Ráifran Silene Souza. Tudo para brilharmos nos palcos coariense.
Não podia ter uma apresentação de dança, um concurso qualquer, que lá estávamos nós… inventando passos ou imitando os sucessos da TV.
Uma vez fizemos uma apresentação no palco do colégio Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, naquele palco de madeira, que tinha tábuas soltas e um buraco pequeno bem no meio. Eu dançando Ilariê, da Xuxa, toda montada com dois laços brancos no cabelo e uma bota até o joelho; a Ráifran na sua performance de Flasdance, porque ela fazia um espacate perfeito (coisa que eu nunca consegui apesar dos muitos esforços dela em me ensinar) e a Zazá dançando Madonna, que ela curte até hoje.
Pela apresentação, ganhamos 3 brindes. Saímos do colégio animadas com nossos presentes. Fomos descendo a ladeira da igreja, curiosas para ver nossos prêmios. Eu ganhei um perfume, daquele tipo Seiva de Alfazema (mas não era o original, o que causou um trauma permanente), a Ráifran ganhou uma toalha de banho, daquelas que não enxuga nada (o que também causou um trauma permanente), e o presente mais “legal” de todos foi o da Zazá, uma sandália havaiana número 40, que não cabia no pé de ninguém. Esse causou risadas permanentes.
Em um outro momento, fomos fazer uma apresentação em um evento da Maçonaria. Provavelmente a pedido da minha mãe Simonete Lima que sempre organizava as festas junto com as Damas de Acácia (grupo formado por mulheres de Maçons). Criamos a coreografia, ensaiamos, improvisamos um figurino e fomos para apresentação. Na hora de entrar no salão, o Sr. Messias, que estava como apresentador do evento, pergunta:
– Qual é o nome do grupo?
Eis que eu olho para minhas companheiras de dança e ficamos em silêncio, sem saber o que responder, pois, não tínhamos chegado nessa etapa de profissionalização.
Ele então pega o microfone, e com a voz de veludo e elegante que ele tinha, anuncia:
– Com vocês, o Trio Gua-da-lu-peeee!!! (Não faço ideia de onde ele escolheu esse nome até hoje).
E nós entramos naquele salão de cimento avermelhado e fizemos nossa performance, com um final digno de ginástica olímpica onde a Ráifran e Zazá ficavam parcialmente ajoelhadas enquanto eu subia nas pernas delas e esticava os braços para alto, prontas para receber os aplausos entusiasmados do nosso público.
Infelizmente o trio Guadalupe não continuou. Mas a amizade… ah, essa prosperou lindamente!!!
Manuella Dantas
Autora da crônica “O Trio Guadalupe”
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8 comentários em “O Trio Guadalupe – 1987”
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Que lindo! ♥️
Que tuuuuuudo ☺️☺️
Bela história e lindas lembranças!
Amei !!!quero maís
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