José Ribamar Bessa Freire
10 de dezembro de 2023
O texto narra a história de Sílvio Barreto, um jovem com uma voz potente e um talento para a oratória, que se tornou uma figura conhecida em Coari. Durante a inauguração de uma quadra esportiva, Sílvio aproveitou a oportunidade para fazer um longo discurso exaltando as qualidades do prefeito Alexandre Montoril, seu dentista. Com um estilo peculiar e um vocabulário rebuscado, Sílvio transformou o evento em uma verdadeira homenagem ao prefeito, destacando suas diversas realizações para a cidade.
Meninas, ninguém me contou. Com esses olhos míopes que a terra há de comer, eu vi em 1961 a inauguração da quadra esportiva construída pelo prefeito de Coari, Alexandre Montoril, um dentista formado pela Faculdade de Odontologia da Universidade Livre de Manáos. Antigo território dos povos Yurimagua e Miranha, Coari disputa com Tefé o título de “Rainha do Solimões”. Morei lá quatro anos, internado no seminário redentorista.
Foi então que conheci Sílvio Barreto – o “Bolinho” – filho de Marieta, dona de casa e João Bosco, comerciante. Apesar da baixa estatura, sua voz potente lhe deu fama de orador. Gostava de usar palavras difíceis, que garimpava no dicionário, usadas nem sempre com propriedade, mas deixa para lá. Tornou-se uma espécie de tribuno da cidade, presença obrigatória em todas as festividades. Ao contrário do seu xará Tendler, ele não brincou sobre seu dentista. Falou sério:
– Esta quadra é mais opípara do que pareeeece. Eu digo isso, pela minha personalidade invejoooosa e concupisceeeente. Esta quadra foi construída pelo prefeito Alexandre Montoril que, por sinal, é meu dentista.
Sem quebrar o ritmo da fala, com uma entonação que crescia e diminuía, a camisa entreaberta exibindo um peito cabeludo de Tony Ramos, Sílvio – o Bolinho – esqueceu da inauguração da quadra e desandou a elogiar o prefeito, “que por sinal colocou esse meu dente de ouro”. O nosso Tendler nem de gozação foi tão longe.
O orador biografou Alexandre Montoril, nascido no Crato, Ceará, primo do Patativa do Assaré, construtor de escolas, que “inaugurou o grupo escolar onde estudei”, de pontes “uma delas bem atrás da minha casa” e de um trapiche “que permite atracar dois barcos ao mesmo tempo”. A olaria – a única da cidade, a biblioteca Municipal de Coari, o obelisco, o coreto municipal, a sede da Prefeitura em estilo colonial – tudo obra de Montoril, o JK do Solimões.
Excerto da crônica: Três Sílvios e uma Mostra de Cinema em:
https://www.taquiprati.com.br/cronica/1725-tres-silvios-e-uma-mostra-de-cinema

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