Minha Máquina de Escrever – Francisco Vasconcelos

 Minha Máquina de Escrever

Francisco Vasconcelos

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Numa incerta busca de algo bem antigo,
notei que me faltava alguma coisa
além do que ansioso, procurava.

Ah! A minha máquina de escrever!
Que fizeram dela?
Finalmente, que fim lhe haviam dado?
perguntei a quem, por certo, podia responder.

Sim… a minha máquina, onde está ela,
se aqui, onde a guardava, não está mais?

Chamava-se Olivette e era mui querida.
Fiel companheira de noites bem vividas
ao longo das quais, com inusitado amor
e frenética compulsão
gestamos nossos filhos,
poemas e contos,
e até mesmo um romance inconcluso
ou ainda em fase de  demorada gestação.

E que dizer das cartas que escrevemos,
em cada uma delas o testemunho
de imorredoura amizade,
depósitos que foram  todas elas,
das mais sentidas lembranças
e inarredável saudade?

Foi então que me deram a resposta
que jamais esperava um dia ouvir:

— A máquina? Aquela bem velhinha, pequenina e sem jeito,
que para nada mais servia,
desprezada e sozinha?
Aquela humilde máquina que deixaste de lado
qual coisas imprestáveis
e com defeito?

Que proveito dela tirarias,
se com outro amor agora de comprazes,
noite após noite como amantes fogosos
que pareciam ser a qualquer hora?

E foi aí que me veio a resposta
sobre o destino de minha máquina de escrever:
“Doei-a àquela casa amiga,
cujo bazar vez por outra ajudamos
desfazendo-nos de tudo que guardamos sem mais utilidade”.

Confesso que sofri.
Oh pequenina e tagarela ajudante de meus sonhos!
Que destino te deram, que fizeram de ti?
A quem serves agora, velhinha e já cansada?

E  embora com  saudade e inafastáveis  lembranças
contentei-me ao saber que mesmo  tarde,
sem nada saber  do que antes acontecera,
de algum modo fizera caridade…

Bsb, julho/2013

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