Francisco Vasconcelos
Nesse texto do escritor coariense Francisco Vasconcelos, é contada a narrativa de como Stalin apareceu na cidade de Coari.

E porque lembrança atrai lembrança, animo-me, pelo pitoresco que uma delas encerra, a registrar episódio que se passou envolvendo o famoso Pedro Veras e os Padres Redentoristas, todos norte-americanos, recém-chegados à cidade. Pedro, vale dizer, era o único comunista que Coari conhecia. Comunista e, fazia questão de apregoar, anticlerical, como chegou certa vez a pintar, em letras bem grandes, nas portas de sua casa, o que fizera ao saber que procissão da qual participaria o Bispo do Amazonas, Dom João da Matta, passaria por sua rua.
De sua terceira mulher, por sinal do mesmo nome que a segunda, Otília, simples e humilde criatura, tinha-lhe nascido, se bem me lembro, o segundo filho, cujo nome logo escolhera. Chamar-se-ia Stalín. Assim mesmo, no oxítono, como pronunciava o nome do então todo poderoso e temido senhor das esquerdas, a quem tanto desejava homenagear. Instado pela mulher a que permitisse batizar o recém-nascido, Pedro, estranhamente, não ofereceu resistência. “Pode batizar”, respondeu, acrescentando que o nome haveria de ser o que já escolhera.
De sua terceira mulher, por sinal do mesmo nome que a segunda, Otília, simples e humilde criatura, tinha-lhe nascido, se bem me lembro, o segundo filho, cujo nome logo escolhera. Chamar-se-ia Stalín. Assim mesmo, no oxítono, como pronunciava o nome do então todo poderoso e temido senhor das esquerdas, a quem tanto desejava homenagear. Instado pela mulher a que permitisse batizar o recém-nascido, Pedro, estranhamente, não ofereceu resistência. “Pode batizar”, respondeu, acrescentando que o nome haveria de ser o que já escolhera.
Sem atinar para o que poderia ser armação do marido, Otília, feliz e tranquila, dirigiu-se à igreja, não demorando a voltar cheia de inquietação e dúvida. É que o Padre se recusava a batizar-lhe o filho. Com aquele nome, não. Até poderia admitir, desde que houvesse, antes, o nome de um santo qualquer.
E foi aí que, tudo indica, o ardiloso comunista coariense resolveu aplicar no “reacionário” padre seu maior xeque-mate. Vale lembrar que o sacerdote se chamava José, e era um dos três padres que, com esse nome, tiveram marcante atuação missionária em Coari, a partir de 1943. Um deles se chamava José Maria, que passou por aquela distante paróquia, sacudindo o coração de muita gente. Certa vez, por exemplo, ao paramentar-se para a missa, eu, acólito, pertinho, ouvi de conhecida admiradora que, dengosa e insinuante, dele se aproximou:
— Padre, que quer dizer… – e falava, num inglês possivelmente estropiado a frase cujo sentido dizia querer alcançar. O Padre olhou-a, sorriu e, num tom igualmente dengoso, respondeu:
— Oh!… Dá-me um beijo, querida!…
Para Pedro Veras, os padres americanos “bando de urubus”, como a eles se referia, em razão de usarem, logo que chegaram, batinas pretas não passavam de “inimigos”. Dele e do Brasil “espiões” que, sem dúvida, deveriam ser todos eles. Haveria outra razão para se meterem naqueles confins de mundo, longe das benesses da civilização? Ah! Chegara a sua vez. E voltou a pensar no batizado do filho. “Nome de Santo?” Ótimo! E então decidiu: “Põe José na frente!…” E o padre não teve saída.
Ganhava, assim, Stálin, naqueles confins da Amazônia, pelo menos, o primeiro e, e bem possível, seu único homônimo: JOSÉ STALIN Veras.
Trecho do Livro: Coari – Um Retorno às Origens – Francisco Vasconcelos.
Leia mais em:
Minhas memórias do festival folclórico coariense (1976–1993)
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